terça-feira, 26 de maio de 2009

Devaneio

A noite chega sonolenta. Fecho os olhos cansados da luz e entrego a mente à escuridão vazia, que aflora os meus sentidos e trás você. Eu apenas espero.
Não tarda. Um semblante ilumina meu vazio. Chega sereno, manso, palpável. E, por ser palpável, sei que é sonho, ilusão, devaneio de uma mente entorpecida de paixão. Permaneço imóvel.
Um momento antes do toque. Rompante batimento cardíaco, o torpor toma conta não só da mente, mas de toda minh'alma e corpo nu, trêmulo com a tua presença. É um anjo, com cabelos em caracóis.
Não há censura. Posso tocá-lo. A pele é quente, é macia, é real. O arrepio na espinha, também. Acaricio teus cabelos, aliso tua face, prolongando o carinho até os ombros e, finalmente, enlaço os braços em volta do teu pescoço. Olhos nos olhos, cara a cara.
A respiração ofegante me deixa sentir teu hálito quente e doce. Café e cigarro. Inebriante, principalmente para mim. É mais que ecstasy, é êxtase.
Em um ato de selvageria, ataco e violo com um beijo pecador a boca sacra da criatura celestial presa em meus braços. Prolongo o sacrilégio sabotando cada curva deste santuário divino. Corpos quentes, como o inferno.
Agora são pernas, costas, barriga, sexos, suor, mãos, coxas, braços... todos enlaçados. Não há mais pecado ou perdão, anjo ou pecadora, são apenas dois corpos rubros e quentes formando um único ser. E mesmo sem ter ouvido tua voz, sei como é teu gemido de prazer. Eis o júbilo da união de duas almas.
Depois do estopim, os corpos caem, pálidos. Os gemidos cessam. Não digo adeus, mas abro os olhos. A manhã ruidosa mostra o céu nublado começando a abrir espaço para os primeiros raios indolentes do sol. É só a luz que cansa meus olhos voltando.

Mas eu só quero a escuridão.

Cinco meses.

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