terça-feira, 2 de junho de 2009

Minha tão grande culpa

Não pude sequer descansar dos sofrimentos de outrora. Esperava ter mais tempo para enxugar o rosto molhado de lágrimas passadas. Não achava que, tão cedo, me abraçaria novamente com meu travesseiro, como se este fosse meu único e melhor amigo no mundo, e depositaria em toda sua fofura mais um pranto sofrido.
Ah, coração bobo! Guarda tuas lágrimas para chorar a felicidade dos momentos que virão. Economiza o travesseiro para recostar as cabeças rodando de prazer. Espalha tua alegria a todos os teus amigos no mundo. Multiplica-a.
Não é sua culpa, amor, eu sei. É minha culpa, minha tão grande culpa. Eu não tenho o direito, eu não tenho. Perdoa-me por me ver assim? Ah, eu sei que perdoas, amor! Anjos são divinos, puros! Anjos não querem o mal. Perdoai o mal que faço!
Eu que devia estar ali. Não, eu ESTOU ali, mas não me vejo. Todo o cenário, todas as luzes, todas as cores, o vermelho, a graça... Não existiria nenhum mistério, nem a lua, nem flores desabrochadas... O amor viria em botão.
Ai de mim, amor! Eu vejo o que não vês. Por mais que digas que não, é ela. Em tuas entranhas, em tuas veias, em tua carne. É uma doença da qual não te curastes, nem sentes mais os sintomas. É feitiço de cigana, e foram seus olhos de mar negro que o fizeram. Ela te domina. E te castiga como quer.
Mas eu espero, amor. Espera também. Levarei-te a cura, junto com o calor. Então serás livre para mim. Inteiramente. Loucamente.


E paro por aqui, pois já não posso mais espaçar as nuvens de lágrimas que se formam e caem desde o pôr do sol. Como a chuva do dia todo. É o pranto voltando a doer no meu peito.



26/05/2009.

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