segunda-feira, 21 de setembro de 2009

III

A luz forte dos faróis do ônibus quase cegaram seus olhos, mas ele tinha medo de fechá-los e, quando os abrisse, tudo não ter passado de um sonho.
Os passageiros desciam lentamente do veículo já parado na garagem. De repente, se viu cercado de muitas pessoas que também esperavam alguém chegar. O pastor ao seu lado foi o primeiro a se retirar, após receber sete ou oito fiéis com muitos gritos de "Aleluia!" e "Paz do Senhor, irmão". Depois foram buscar as malas e deram espaço para os outros passageiros desembarcarem.
Vira, em seguida, um casal jovem e com aparência cansada de pós-viagem. Esses foram recebidos por um casal mais velho e um rapazinho de uns 15 anos. Ouviu algum comentário sobre "a barriga que já estava aparecendo", mas não deu importância. Não conseguiu tirar os olhos da porta por onde desciam as outras pessoas.
Um homem que passou rápido e sozinho, que não foi recebido por ninguém e sequer foi buscar as malas, foi o próximo.
Uma família de quatro pessoas desceu logo em seguida; o pai carregando uma menininha adormecida no colo e a mãe com um bebê chorando, atrás. Se espantou com como parecia grande a diferença de idade dos dois. Depois sorriu ao pensar como isso é irrelevante diante do amor.
Num tempo que pareceu uma eternidade, viu o esboço das duas próximas pessoas: à frente uma senhora que olhava para trás e falava sem parar (até receou que a pobrezinha errasse os degraus da escada), mas logo esqueceu a velhinha. Como se não houvesse mais nada ao seu redor, olhava apenas o semblante que tanto aguardava vindo logo atrás dela.
De tênis e jeans, mochila, uma camiseta conhecida, um casaco aberto por cima e as mãos agasalhadas, a única coisa visível era seu rosto.
A pele quase branca, olhos castanhos contornados por um preto já um pouco borrado e por trás de lentes transparentes de um óculos com armação quadrada. Lábios de cor rosada que sorriam largamente. Cabelos lisos e quase pretos descendo até o meio das costas, emolduravam aquela face. E uma franja caindo sobre o lado direito da testa. Ela parecia emanar uma luz própria, mais forte que o sol, ainda escondido naquela manhã. Agora, tudo parecia mais iluminado.
Não parecia ter passado apenas alguns segundos, mas uma eternidade, e ela já estava ali, na sua frente. Até os olhos dela sorriam.
- Tá frio, né? - Uma voz fraca trazendo uma sotaque puxado e uma melodia suave encheram de alegria seus ouvidos...

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