terça-feira, 15 de setembro de 2009

I

Era tão difícil deixá-la ali, no mesmo local onde, há quase um mês, tinha testemunhado seu sorriso e suas lágrimas pela primeira vez.
Recordava-se agora, daquela manhã de julho. Chovia fino às cinco da madrugada. Estava acordado desde cedo, ou melhor, não pregara os olhos por toda a noite.
O frio daquela manhã quase congelava o que estava na rua. Tomou um café forte, fumou um cigarro, tentou matar o tempo. Consultou o relógio. Ainda faltava muito para as oito. Não se importou, pegou o casaco pendurado na cadeira e saiu.
Deixou o carro na garagem. O tempo ainda estava nublado, mas já não chovia. Iria a pé até onde conseguisse, precisava que o tempo passasse o mais rápido possível. Era longe, ele sabia, mas nenhuma distância seria maior do que a suportada até então.
O vento era cortante, e chegava a queimar. Subiu o zíper do casaco até o pescoço, agasalhou bem as mãos e pôs-se a andar. Não sabia quanto e nem por quanto tempo estava caminhando, sentiu alguns pingos de chuva voltando a cair.
Abrigou-se sob o teto do estacionamento de uma padaria sem clientes, reconheceu estar quase no meio do caminho. Acendeu um cigarro e esperou até que passasse um táxi.
Não precisou esperar tanto. A simpática dona do estabelecimento ofereceu-se para chamar um taxista de sua confiança para levá-lo ao seu destino. Quando jogou fora a bituca do cigarro, um alegre senhor grisalho dirigindo uma carro quase tão velho como ele, acabara de chegar. Agradeceu à senhora, despediu-se e entrou o veículo. Tinha cheiro de coisa velha. Não questionou. Era quente e seco ali dentro, além disso, não tinha mais tanto tempo assim.
O velho saiu do carro, trocou algumas palavras com a amiga e voltou.
- Bom dia! - disse sorrindo - rodoviária?
Apenas balançou a cabeça afirmando. Imaginou ter sido a amiga quem dera a informação. Ela tinha feito algumas perguntas enquanto esperavam. Para espantar o tédio, ele achava. Olhou pela janela e agradeceu por não precisar ouvir mais perguntas. O motorista estava sempre com um sorriso, tagarelava sobre como estava frio, falava alguma coisa sobre futebol, mas não fazia perguntas.
A cidade estava vazia. Apostou que muitas famílias aproveitaram as férias para sair do interior. Também era cedo, o frio convidava as pessoas a ficarem mais tempo na cama. Via as árvores passando junto com as casas. Era tudo tão especialmente cinza, naquela manhã.
Quando chegou ao seu destino, ainda faltava um pouco mais de um quarto de hora para as oito. Pagou a corrida, agradeceu e dispensou o motorista. Precisaria de um carro mais tarde, mas aquele senhor demasiadamente falante iria estragar seu momento de angústia e ansiedade até as oito horas. O velho agradeceu com um largo sorriso e desejou um bom dia.
Agora era apenas ele e os poucos minutos. Acendeu outro cigarro, o nervosismo precisava ser acalmado. Sentou-se em um banco de frente para a garagem e esperou.

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